Uma série de grandes fendas de erosão (voçorocas) vem avançando sobre áreas urbanas de Buriticupu, no interior do Maranhão. O fenômeno já colocou centenas de moradias em risco, motivou decretos de calamidade e desencadeou ações emergenciais e projetos de diagnóstico para conter o avanço. Abaixo explico como está o andamento, como a população tem sido afetada e quais são os avanços até o momento.
O que está acontecendo? (andamento do fenômeno)
Buriticupu convive com voçorocas — grandes crateras de erosão causadas principalmente pelo desmatamento, uso inadequado do solo e chuvas fortes. Em episódios recentes (noticiados em 2025), a Prefeitura decretou estado de calamidade pública diante do avanço de ravinas que ameaçam bairros inteiros; autoridades municipais relataram que cerca de 1.200 pessoas e aproximadamente 250 moradias estão em áreas de risco imediato. A cratera mais impactante chegou a ter dimensões impressionantes, com profundidades relatadas na imprensa e imagens aéreas que mostram abismos que se abrem ao longo de encostas urbanas.
Por que isso está ocorrendo?
O processo que leva à formação de voçorocas combina fatores naturais e antrópicos:
retirada da vegetação que protegia os taludes e reduzia o escoamento superficial;
Ocupação desordenada de áreas de encosta;
solos arenosos e chuvas intensas que aceleram a erosão quando a água corre sem obstáculos.Sem cobertura vegetal e sem sistemas adequados de drenagem, pequenos sulcos se transformam em ravinas que se alargam e aprofundam de forma rápida. Essa dinâmica já vinha sendo observada no município há anos, com aumento do risco em períodos de chuvas intensas.
Como afeta a vida da população
Os impactos são múltiplos e imediatos;
Risco à vida e às moradias: casas localizadas à beira das voçorocas correm risco de desabamento ou de serem literalmente engolidas pelo solo; famílias foram identificadas para remoção.
Deslocamento e perda de bens: moradores já tiveram que deixar residências; além do deslocamento, há perda de bens, insegurança e trauma coletivo.
Serviços e infraestrutura comprometidos: ruas, redes de água e esgoto, iluminação e acesso a serviços podem ser interrompidos conforme o solo cede.
Economia local fragilizada: queda no valor de imóveis, custo para realocar famílias e dificuldade de atração de investimentos.
Saúde pública e bem-estar: condições de moradia precária e estresse psíquico aumentam demanda por assistência social e de saúde.
O que as autoridades e institutos técnicos estão fazendo (avanço das ações)
Nos últimos meses houve movimentação em várias frentes:
1. Atos administrativos e recursos emergenciais: a Prefeitura decretou calamidade para agilizar desapropriações, realocar moradores e contratar obras sem licitação em caráter emergencial, além de buscar suporte federal. Reuniões com o Ministério do Desenvolvimento Regional foram realizadas para tratar da liberação de ordens de serviço.
2. Diagnóstico técnico e mapeamento: o governo do Maranhão e universidades locais (por exemplo UEMASUL em parceria técnica) estão coordenando projetos de diagnóstico e mapeamento por geotecnologias para entender a dinâmica das voçorocas e priorizar intervenções. Esses diagnósticos são essenciais para dimensionar obras de contenção, drenagem e recomposição de vegetação.
3. Obras emergenciais: foram anunciadas ações de contenção (canais de drenagem, muros de arrimo, cordões de vegetação e bloqueio de linhas de fluxo de água) em áreas críticas; muitas dessas obras dependem da liberação de recursos e contratação rápida.
4. Acompanhamento jurídico e social: o Ministério Público tem cobrado cumprimento de acordos e ações de proteção às famílias afetadas; programas de assistência temporária e regularização fundiária são parte do debate.

O que já avançou e os principais desafios
Avanços: há mobilização institucional (municipal, estadual e federal), projetos de diagnóstico em curso e primeiras ações emergenciais sendo executadas ou planejadas para áreas mais críticas. A conciliação entre medidas técnicas (engenharia de contenção, drenagem e recuperação de vegetação) e atendimento social (realocação e reassentamento) foi colocada como prioridade pública.
Desafios ainda grandes: garantir recursos financeiros suficientes e rápidos; executar obras em curto prazo com qualidade técnica; promover reassentamento digno (local seguro, infraestrutura e assistência social); atuar na prevenção para que novas áreas não sejam ocupadas; e enfrentar causas históricas como desmatamento e uso inadequado do solo — cuja reversão demanda planejamento e tempo.

Recomendações práticas (curtas)
O que deve ser feito agoraPriorizar retirada segura de famílias em risco e oferecer reassentamento ou auxílio-locação temporário.
Concluir mapeamento técnico para definir áreas prioritárias de contenção.
Implantar rapidamente obras de drenagem e contenção nas frentes ativas.
Iniciar projetos de recuperação ambiental (plantio de cobertura vegetal nas frentes de erosão).
Investir em fiscalização de ocupação e educação ambiental para evitar novas erosões.
Conclusão
A situação em Buriticupu é um exemplo extremo de como voçorocas, alimentadas por fatores humanos e climáticos, podem transformar o risco ambiental em crise social e urbana. Há ações em andamento — diagnósticos, decretos e obras emergenciais —, mas o controle eficaz exige soluções técnicas bem financiadas, planejamento de reassentamento e medidas preventivas de longo prazo. O cenário continuará sensível até que a combinação dessas medidas seja implementada de forma coordenada.

